Pr. Ciro Sanches Zibordi |
Até o fim dos anos 1990 não havia tantos malabaristas nos púlpitos das Assembéias de Deus. A pregação bíblico-expositiva ainda reinava. Pregadores que expunham a Palavra do Senhor, na dependência do Espírito Santo, ainda eram respeitados. Mas, com o falecimento de alguns e a queda espiritual de outros, começaram a surgir, em grande quantidade, ainda na aludida década de 1990 (que compreende o período de 1991 a 2000), os animadores de auditório.
Hoje, o modelo que prevalece e encanta multidões é o multidões é o da pregação interativa dos "ungidos", no melhor estido diga-isso-e-aquilo-para-o-seu-irmão, com pouquíssimo conteúdo bíblico e malabarismo de sobra. Como consequência, muitos crentes já não suportam a exposição da viva e eficaz Palavra do Senhor (Hb. 4.12). Isso, para eles, é simples demais e enfadonho; querem movimento, animação, berros prolongados ao microfone, gracejos, exibição teatral, etc.
A exposição verdadeiramente ungida das Escrituras perdeu o seu espaço. E quem não gosta de animação de auditório, como este expoente, é considerado pela maioria como retrógado, ultrapassado, invejoso, sem unção, incapaz de "gerar a graça", inimigo do "mover de Deus", cético, etc.
Entretanto, a minha batalha - ainda que às vezes me sinta como alguém tirando água do oceano com uma pequena caneca - pela recuperação da pregação expositiva continuará, segundo a graça do Senhor Jesus. Enquanto Deus me der força, perserverarei em protestar contra a animação de plateia e em asseverar que precisamos voltar às "veredas antigas" (Jr. 6.16). Afinal, avivamento também significa reconquistar o que foi perdido (Lm 5.21).
No dia 28 de abril de 1998, partiu para a glória, aos 58 anos, um grande expoente assembleiano: Valdir Nunes Bícego. Com base no que está escrito em 2 Timóteo 3.14, posso dizer que o ministério que o Senhor me outorgou foi grandemente influenciado por eminentes pregadores e ensinadores da Palavra, especialmente Valdir Bícego, que, na minha opinião, foi o grande nome da pregação expositiva na última década do século XX.
Não havia, à época da virada do milênio, um pregador que reunisse tantas qualidades como Valdir Bícego. De alguma forma, ele possuía todos os dons ministeriais mencionados em Efésios 4.11. Assim como Paulo, que recebeu do Senhor um ministério multíplice (1Tm 2.7), Bícego era, ao mesmo tempo, um mestre, um pastor, um evangelista, um profeta e uma apóstolo do Senhor.
Influenciado diretamente por homens de Deus, comos os verdadeiramente apóstolos Cícero Canuto de Lima e Eurico Bergstén, Valdir Bícego reunia em si um pouco dos dois. Era seguro e zeloso como o primeiro e compromissado com a sã doutrina e com a pregação biblicocêntrica, como o segundo. Tive o privilégio de ser encaminhado ao ministério por ele, servindo ao Senhor sob seu pastorado na Assembléia de Deus da Lapa, em São Paulo, durante quinze anos.
Desde o dia em que vi o pastor Valdir Bícego expor a Palavra do Senhor, em um congresso de jovens, acendeu-se em mim uma chama para proclamar o Evangelho e defendê-lo (Mc 16.15; Fp 1.16). Na sua última pregação, em 27 de abril de 1998 (um dia antes de sua repentina morte), a qual também tive o privilégio de ouvir, ele asseverou: "Não fiquem em torno do pastor. Fiquem em torno de Jesus, da Palavra e do ministéiro, pois o pastor pode morrer a qualquer momento".
No início do século XXI, a pregação expositiva tornou-se escassa e obsoleta nos púlpitos assembleianos. Os animadores de auditório começaram a encantar os jovens pregadores, em razão de serem aqueles os protagonistas dos grandes congressos pretensamente pentecostais, transmitidos ao vivo pel Internet. Pregações triunfalistas e antropocêntricas, com temas exóticos, com "Grávidos de um avivamento" ou "Sonhe e ganhará o mundo", passaram a ser vendidas, alugadas e pirateadas em todas a parte, tornando os tais malabaristas verdadeiras celebridades.
Coincidentemente ou não, depois das mortes de Bernardo Johnson (em 1995), Valdir Bícego (em 1998) e Eurico Bergstén (em 199), e com as quedas espirituais de importantes expoentes da Palavra de Deus (algumas irrevesíveis), cresceu, e muito, a animação de plateia. Não obstante, hoje, graças a Deus e ao legado de pregadores do passado, o quadro já começa a melhorar. Há um forte clamor pela pregação expositiva, cristocêntrica, centrada na imutável Palavra do Senhor, e começam a surgir pregadores à moda antiga. Aleluia!
Diante do exposto, continuarei com o propósito de imitar os grandes expoentes que conheci no milênio passado, como Valdir Bícego, Geziel Gomes, Jimmy Swaggat, Eurico Bergstén, Bernard Johnson e tantos outros (1Co 11.1), sem contar os ensinadores. E continuarei lutando para que, em nossos cultos e congressos, voltemos a valorizar a poderosa exposição da Palavra de Deus (Sl 119.130; Jo 5.24), sem exibicionismo, invencionices, ilusionismo, berros desnecessários, malabarismo, gracejos sem graça, triunfalismo e outros devaneios e aberrações que desviam o povo da verdade e do temor ao Senhor.
Ciro Sanches Zibordi
Nota do Blog:
Um dos melhores artigos que já tive o prazer de ler ultimamente. Realmente se formos olhar a situação em que se encontra nossos púlpitos, chegamos a triste conclusão que as coisas andam de ruim a pior. Quando li esse artigo do Pastor Ciro, a primeira coisa que me deu vontade foi de chorar. Chorar de saudade daqueles tempos em que realmente ouvíamos os homens de Deus entregando a verdadeira Palavra de Deus. Tenho saudade de ouvir as pregações de um Pastor Francisco Raimundo, dos ensinamentos do Pastor João Batista da Silva Filho, da presença imponente e respeitada do Pastor João Batista da Silva e tantos outros homens de Deus que transpiravam santidade.
Sinto verdadeira ojeriza da grande maioria dos pregadores da atualidade. Homens mentirosos, arrogantes e prepotentes que usam a Palavra de Deus para enganar as pessoas. Entretanto, esses malabaristas não tem culpa sozinhos, nós também temos culpa quando nos permitimos ouvir mensagem triunfalistas e imediatistas, e cheia de heresias. Portanto, é hora de voltarmos ao passado e deixar quem quiser nos criticar de retrógado, ultrapassado e outras coisas, que nos critique.
Sinto verdadeira ojeriza da grande maioria dos pregadores da atualidade. Homens mentirosos, arrogantes e prepotentes que usam a Palavra de Deus para enganar as pessoas. Entretanto, esses malabaristas não tem culpa sozinhos, nós também temos culpa quando nos permitimos ouvir mensagem triunfalistas e imediatistas, e cheia de heresias. Portanto, é hora de voltarmos ao passado e deixar quem quiser nos criticar de retrógado, ultrapassado e outras coisas, que nos critique.
Acredito que somente um grande avivamento e volta imediata à Palavra de Deus poderá colocar um freio nesse absurdo que vivemos hoje. Agora, somente um verdadeiro avivamento para realizar outra grande Reforma!
Deus nos abençoe! Parabéns ao pastor Ciro Zibordi, do começo ao fim do seu artigo está completamente correto.
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