terça-feira, 17 de novembro de 2009

OS CAMINHOS DO SENHOR - FINAL

Sentindo o ancião que a morte se avinzinhava, desejou dar ao cirurgião uma prova de gratidão, e solicitando-lhe alguns momentos de atenção, falou-lhe nestes termos:
- O senhor tem usado para comigo de tanta benevolência, que me sinto constrangido a entrega-lhe o único tesouro que possuo neste mundo. E, entregando-lhe uma Bíblia, acrescentou: uma senhora crente fez-me presente deste Livro que me abriu os olhos sobre a minha miserável condição e me libertou das minhas paixões criminosas. Nesta Bíblia achei o caminho da salvação, o perdão dos meus pecados por Jesus Cristo, a doce paz do meu coração, que tanto tempo viveu torturado por indizíveis remorsos, e a consolação nos dias do meu infortúnio.
Aqui o velho interrompeu-se. Um inditoso segredo parecia pesar-lhe ainda sobre a alma, mas a vergonha de confessá-lo travara-se de luta com a necessidade que tinha de desabafar o coração. Essa luta, porém, durou apenas alguns instantes. Então começou a relatar com voz pausada, mas grave, todas as desordens e impiedades de sua vida, referindo entre outras como arremessara ao mar uma criança de quatro anos, seu próprio filho, por haver pedido de comer.
- Ó Deus, seria isto possível? Exclamou o jovem cirurgião, cujos movimentos e estupefação cresciam a medida que o velho prosseguia a sua narração. Seria possível tornamo-nos a ver neste mundo? Diga-me, continuou ele, segurando na mão do velho, em que parte da Inglaterra sucedeu isto?
- Entre Norwich e Yarmounth, respondeu o ancião, que não compreendia por que o jovem cirurgião se achava tão comovido ao fazer-lhe tal pergunta.
- E quanto tempo há que sucedeu isto?
- Há mais ou menos vinte e três anos, respondeu o ancião.
- E não se chamava esse menino, Jacó? Interrompeu o cirurgião, que mal se podia conter.
- Jacó! Sim, era esse o seu nome! Exclamou o velho, com espanto crescente.
- Meu pai, abençoe o seu filho! Exclamou o cirurgião, atirando-se de joelhos ante o leito do moribundo. Abençoe o seu filho! Foi Deus quem nos ajuntou de novo, quem quis por diante dos meus olhos o exemplo de sua conversão, e de sua pia esperança.
Longo tempo o ancião conservou-se mudo; não acreditava aos próprios olhos, pensava na possibilidade de um sonho a que havia de seguir-se amargo desengano. Pouco a pouco, porém, foi reunindo suas idéias e pediu ao jovem oficial que lhe relatasse os pormenores que ainda lhe lembravam. Finalmente estava convencido de que era de fato seu filho a quem tinha diante de si e lágrimas de alegria inundara-lhe as faces, sobre que pairavam já as sombras da morte; e, somo Simeão, exclamou: "Agora, Senhor, despedese em paz o teu servo".
Faleceu ainda nesse mesmo dia, nos braços de seu filho, rendendo graças ao Deus.
Esta conincidência tão inesperada e tão admirável fez tal impressão sobre o jovem cirurgião, que ele logo depois demitiu-se de seu posto na marinha, para dedicar-se a pregação da Palavra de Deus.
E sucedeu que, havendo um servo do Evangelho relatado essa história em uma reunião religiosa, ele se dirigiu a esse pregador e disse: "Eu sou aquele pobre Jacó".

  • Se você não leu o início da história, leia em OS CAMINHOS DO SENHOR - PARTE 1
Fonte: PERÓLAS ESPARSAS

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