sexta-feira, 13 de novembro de 2009

OS CAMINHOS DO SENHOR (PARTE 1)

Ao longo de uma praia, na costa da Ingaterra, entre as cidades de Nowich e Yarmounth, perabulava um pai acompanhado de seu filhinho de quatro anos.
- Tenho fome, disse o menino.
- Cala-te, desgraçado, repondeu-lhe o pai.
- Sim, tenho fome e sinto dores, prosseguiu o menino.
- Não te calas? maroto! Acaso me é possível arranjar-te pão entre as pedras e areias da praia?
Um estremecimento corrreu todo o corpo do menino, que nada mais disse, porque o pai lhe havia falado num tom desabrido e rude e os seus olhos tinham um briho estranho.
Caminharam os dois, um ao lado do outro; o menino com a cabeça pendida sobre o peito a fim de ocultar ao pai as lágrimas que estilavam os seus olhos. No coração do pai tumultuavam pensamentos tenebrosos. Esforçava-se em vão para manter o equilíbrio, pois, segundo o seu costume, estava embriagado, e vacilava a cada passo que dava.
De repente o menino prorrompeu em altos gritos; não tinha podido conter-se; a violência que se fizera para reprimir a dor só o havia aumentado. "Pão!" exclamou o menino, "quero um pedaço de pão!" O desnaturado pai, porém, acometido de um acesso de fúria e desespero, pegou o menino e com toda a força de seu braço o arremessou ao mar, retirando-se precipitado.
Por uma coincidência notável, a que o mundo dá o nome de acaso, como se por uma palavra vazia de sentido se pudesse explicar o que o cristão não duvida em considerar como providência divina, uma tábua sobrenadava ao lado do menino, a que o infeliz pôde agarrar-se, sendo logo afastado da praia, impelido pelo vento ou pelo movimento das ondas.
Não muito distante da praia fundeava um navio de guerra, de cujo bordo foi avistada a criança que, agarrada ao frágil destroço, era impelida na direção do navio, em risco de ser despedaçada de encontro ao mesmo. Acaso deixar-se-á perecer a criança? Não haveria ninguém que se disponha a salvá-la? Tais pensamentos apenas tinham tido tempo de penetrar no espírito da marinhagem, quando um marinheiro já se havia lançado ao mar, trazendo com risco de vida o menino para bordo, onde foi logo por todos interrogado.
- Chamo-me Jacó, respondeu o menino, mas além disso nada sabia adiantar que pudesse esclarecer a guarnição com respeito a família a que pertencia. Resolveu-se pois, conservá-lo a bordo, onde todos lhe chamavam "o pobre Jacó".
Como fosse de gênio pacífico e dócil e além disso muito serviçal, não tardou em consquistar a simpatia de todos. Era por todos considerado como um filho adotivo, constituindo para todos ponto de honra não deixar faltar-lhe coisa alguma. Depois de muito anos de estudos, Jacó obteve colocação em um dos navios de guerra como cirurgião da marinha real. Da maneira mais conscienciosa preencheu as funções desse cargo durante a loga guerra entre a Inglaterra e a França.
Uma ocasião, havendo o navio a que pertencia, capturado uma pequena embarcação, foram para bordo diversos feridos que se confiaram aos cuidados do cirurgião Jacó. Entre os feridos havia um homem idoso, cujos ferimentos pareciam ser fatais. Não obstante, o nosso consciencioso cirurgião lhe dedicou os mais elevados cuidados. Todos os seus esforços, porém, foram baldados.
Sentindo o ancião que a morte se avinzinhava, desejou dar ao cirurgião uma prova de gratidão, e solicitando-lhe alguns momentos de atenção, falou-lhe nestes termos:
Continua...

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